terça-feira, março 28, 2006

Adolescente - V

Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
onde a saliva é de mel?

Calmo, tentou afastar-se
num sorriso desdenhoso;
mas ai!,
- a carne do assassino
é como a do virtuoso.

Numa atitude elegante,
misteriosa, gentil,
deu-me o seu corpo doirado
que eu beijei quase febril.

Na vidraça da janela,
a chuva, leve, tinia…

Ele apertou-me cerrando
os olhos para sonhar –
e eu lentamente morria
- como um perfume no ar!
(António Botto, Canções,1942)

(pp.386, Natália Correia (Coord.). Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, 1999, Lisboa: Antígona Frenesi)